A firma

Por que se cobrir vira circo e se fechar vira hospício

quarta-feira, janeiro 31, 2007

O valor do dinheiro

Hoje eu acordei me perguntando o que mais motiva a carreira das pessoas.
Pensei de imediato no dinheiro, mas depois me olhei no espelho e não consegui encontrar isso na imagem que vi.
Não que eu goste de rasgar notas de cem e costume jogar migalhas de pão para os aviões em Congonhas, mas certamente o dinheiro deixou de ser o principal motivador na minha busca por coisas melhores.
Já passou o tempo em que eu dizia que por três vezes o meu salário eu até lavaria banheiros.
Isso pode ser até verdade, mas como sei que a chance de acontecer é zero, prefiro pensar nas outras coisas que me fazem levantar cedo e ir para o trabalho com cara de maratonista extenuado.

Mas se não é o dinheiro que faz com que o povo se mate na Firma, o que mais existe?
Ou será que dá para pagar contas com motivação e reconhecimento?
Existe alguma chance de satisfação interior e bom relacionamento com o chefe garantirem a educação dos filhos?
Ou ainda, como trocar de carro, comprar um apartamento e fazer a segunda lua-de-mel em Paris com base no prazer do trabalho realizado e no nome em um troféu presenteado pelo Presidente da empresa?

Tudo isso me parece uma questão complicada demais para ser resolvida em um único texto, por isso prefiro cuidar de colocar apenas algumas questões em que acredito e que certamente não são a resposta definitiva:
- o dinheiro é importante, mas não podemos fazer dele um objetivo final; ele deve ser consequência do nosso bom momento na empresa; devemos viver com o dinheiro, mas não por ele;
- por outro lado, reconhecimento e alegria não enchem barriga, por isso o retorno financeiro deve acompanhar esses outros prêmios pelo bom rendimento;
- o prazer em ir para o trabalho é tão ou mais importante do que o dinheiro; não há salário milionário que sustente um emprego onde o cara fica deprimido só de pensar em levantar da cama e encarar o chefe e os problemas; quer dizer, o dinheiro até sustenta, mas o infarto vem junto.

Acho que me fiz entender.
Opiniões favoráveis e contrárias são muito bem vindas.
Vamos lá, Jônatas. Solte o verbo, Grande Líder.
A casa é de vocês.

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segunda-feira, janeiro 29, 2007

O estresse


Meu projeto-suicida está me matando.
O fato de não conseguir sair antes de completar 12 horas de trabalho é o menor dos meus problemas.
O problema de verdade é que quando chego em casa, não consigo deixar os pepinos de fora e os levo até para a cama. O meu quarto vira uma mercearia de tantos abacaxis e abobrinhas que se colocam bem entre eu eu e a Minha Mineira.
Com isso, ela, que também tem a sua cota de complicações, sofre e fica triste. Tudo por conta do bendito estresse.
Obviamente que não armo essa bagunça em casa por vontade própria, mas não tem sido fácil lidar com tudo, principalmente com os problemas de sono que vêm dos problemas no trabalho.

Já faz alguns anos que não durmo bem. Ás vezes me sinto mais cansado depois do que antes de me deitar e isso só piora nestas horas de perrengue.
A gerente que está trabalhando comigo não ajuda em nada com seu jeito alucinado e autoritário. Tudo tem que ser para ontem, até as poucas coisas do cronograma que estão em dia.
Todo mundo reclama dela e eu acabo tendo que segurar mais essa bucha.

Esses dias andei pensando se é possível efetuar um trabalho de alta performance e não se estressar.
Não quero mencionar atividades artísticas que acabam misturando prazer e trabalho. Me refiro às áreas de Informática, Financeira, de Consultoria e até ao setor público.
Será que alguém consegue trabalhar bem e produzir acima da média sem sacrificar um pouco da saúde e da paz interior?
Infelizmente a resposta que sempre aparece é "não".

A minha contra-parte na Consultoria no projeto atual é uma prova disso.
Segundo ela, este é o ano em que se torna elegível para uma vaga de gerência, mas isso só se confirmará se ela parar de sair da empresa às 19:30 e passar a fazer um bom par de horas de serão extra.
Essa situação tem duas situações cômicas, para não dizer trágicas:
1 - sair às 19:30 significa fazer uma jornada de 9 horas diárias, obviamente sem receber horas-extras, o que já poderia ser considerado como um esforço razoável no cumprimento das suas funções;
2 - ficar além desse horário não exige produtividade, ou seja, você pára de trabalhar às 19:00, fica jogando paciência e Doom até às 21:30 e fica muito bem visto pelos executivos superiores.
Seria um negócio da China se não acarretasse tanto estresse e se não fosse tão desleal, pelo menos aos meus olhos.

Ainda não consigo me acostumar com a idéia de assumir ainda mais estresse em troca de evoluções na carreira. É duro pensar que pode ficar pior, bem pior quando eu tiver equipe, responsabilidades e cargo executivo.
Tenho que dar um jeito de controlar essa doideira e manter a sanidade.
Tenho certeza que um pouco de estresse ajuda a motivar e direcionar esforços, por isso entendo que a idéia não seja eliminá-lo, mas controlá-lo e utilizá-lo para meu próprio benefício.

Como isso deve ser mais difícil do que aprender a lutar como o Karate Kid, me resta seguir trabalhando e rezar muito para que a ira não tome conta do meu ser e eu não jogue um ou dois clientes embaixo dos trilhos do metrô.
Seria delicioso, mas certamente não ajudaria a minha próxima promoção.



Para saber mais: clique aqui, aqui e aqui.

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sexta-feira, janeiro 26, 2007

Sinuca de bico

O Professor, um grande amigo que conseguiu fazer a transformação de lagarta em borboleta e saiu da posição de analista para virar executivo, tem nas mãos uma situação que teria uma conclusão óbvia, não fossem algumas nuances que podem trazer muito mais prejuízo do que benefício, dependendo da decisão que ele tomar.

Por conta do processo periódico de avaliação de performances ele teve que conversar com cada membro da equipe e buscar justificativas ou atenuantes para eventuais desvios nos resultados esperados.
Cada um tinha seus objetivos traçados, alguns individuais e outros coletivos, e qualquer desvio significa uma considerável diminuição do bônus anual.
Nessa linha, ele chegou para conversar com um determinado analista e recebeu como respostas para as perguntas sobre os maus resultados coisas como "acho que eu andei devagar", "desculpa, foi mal" ou "ih, esqueci".

Em situações normais isso seria mais do que motivo para avaliações pífias, daquelas que empatam promoções, aumentos e até candidaturas a cursos, ou até demissões, mas no caso desse analista, um pequeno e significativo detalhe muda tudo: ele é um PNE, ou melhor, ele é um portador de necessidades especiais, aquela pessoa que pejorativamente é chamada de aleijada.
E sendo um PNE, por mais razão que o Professor tenha para a demissão, o prejuízo causado pela compaixão do resto da empresa certamente será maior do que o benefício para o resultado da equipe como um todo, ainda mais pensando que eles se viram bem do jeito que estão agora e que a troca por uma pessoa mais eficiente não significaria um ganho imediato de produtividade.

Noves fora, ao ser questionado sobre a situação, fui forçado a engolir meu desconforto com decisões políticas e fui direto: "deixe tudo como está, carimbe o desempenho como abaixo do esperado, assassine o bônus, mas não demita o rapaz. Certamente será o melhor para você."
Como de praxe, o Professor aceitou minha opinião e deve fazer o certo.
Ao menos o certo em termos de convívio, já que a consciência dele deve reclamar durante algum tempo.
Vai reclamar, mas passa. Tudo passa.

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quarta-feira, janeiro 24, 2007

Motivação e motivação

Entrevista a Roberto Shinyashiki

"Cuidado com os burros motivados"

Em Heróis de verdade, o escritor combate a supervalorização da aparência e diz que falta ao Brasil competência, e não auto-estima

Por Camilo Vannuchi

Observador contumaz das manias humanas, Roberto Shinyashiki está cansado dos jogos de aparência que tomaram conta das corporações e das famílias. Nas entrevistas de emprego, por exemplo, os candidatos repetem o que imaginam que deve ser dito. Num teatro constante, são todos felizes, motivados, corretos, embora muitas vezes pequem na competência. Dizem-se perfeccionistas: ninguém comete falhas, ninguém erra. Como Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) em Poema em linha reta, o psiquiatra não compartilha da síndrome de super-heróis. “Nunca conheci quem tivesse levado porrada na vida (...) Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe”, dizem os versos que o inspiraram a escrever Heróis de verdade (Editora Gente, 168 págs., R$ 25). Farto de semideuses, Roberto Shinyashiki faz soar seu alerta por uma mudança de atitude. “O mundo precisa de pessoas mais simples e verdadeiras.”

ISTOÉ – Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki – Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso
é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.

ISTOÉ – O sr. citaria exemplos?
Shinyashiki – Dona Zilda Arns, que não vai a determinados programas de tevê nem aparece de Cartier, mas está salvando milhões de pessoas. Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia. Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis. Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem. Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito “100% Jardim Irene”. É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana. Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.

ISTOÉ – Qual o resultado disso?
Shinyashiki – Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.

ISTOÉ – Por quê?
Shinyashiki – O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência. Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.

ISTOÉ – Há um script estabelecido?
Shinyashiki – Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente de multinacional no programa O aprendiz? “Qual é seu defeito?” Todos respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal: “Eu mergulho de cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar.” É exatamente o que o chefe quer escutar. Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido? É contratado quem é bom em conversar, em fingir. Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder. O vice-presidente de uma das maiores empresas do planeta me disse: “Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir.” Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor?

ISTOÉ – Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?
Shinyashiki – Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência. Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão. Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.

ISTOÉ – Está sobrando auto-estima?
Shinyashiki – Falta às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa. Antes, o ter conseguia substituir o ser. O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer. As pessoas parece que sabem, parece que fazem, parece que acreditam. E poucos são humildes para confessar que não sabem. Há muitas mulheres solitárias no Brasil que preferem dizer que é melhor assim. Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.
ISTOÉ – Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?
Shinyashiki – Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis. Quem vai salvar o Brasil? O Lula. Quem vai salvar o time? O técnico. Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta. O problema é que eles não vão salvar nada! Tive um professor de filosofia que dizia: “Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham.” Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia. Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo. A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.

ISTOÉ – O conceito muda quando a expectativa não se comprova?
Shinyashiki – Exatamente. A gente não é super-herói nem superfracassado. A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado nisso. Hoje, as pessoas estão questionando o Lula em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram. A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.

ISTOÉ – É comum colocar a culpa nos outros?
Shinyashiki – Sim. Há uma tendência a reclamar, dar desculpas e acusar alguém. Eu vejo as pessoas escondendo suas humanidades. Todas as empresas definem uma meta de crescimento no começo do ano. O presidente estabelece que a meta é crescer 15%, mas, se perguntar a ele em que está baseada essa expectativa, ele não vai saber responder. Ele estabelece um valor aleatoriamente, os diretores fingem que é factível e os vendedores já partem do princípio de que a meta não será cumprida e passam a buscar explicações para, no final do ano, justificar. A maioria das metas estabelecidas no Brasil não leva em conta a evolução do setor. É uma chutação total.

ISTOÉ – Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?
Shinyashiki – Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos. Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse. Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O resto foram apostas e erros. Dia desses apostei na edição de um livro que não deu certo. Um amigão me perguntou: “Quem decidiu publicar esse livro?” Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.

ISTOÉ – Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Shinyashiki – O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno. Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards. Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates. O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.

"O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal"

ISTOÉ – Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Shinyashiki – A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais. A segunda loucura é: “Você tem de estar feliz todos os dias.” A terceira é: “Você tem que comprar tudo o que puder.” O resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: “Você tem de fazer as coisas do jeito certo.” Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento. Você precisa ser feliz tomando sorvete, levando os filhos para brincar.

ISTOÉ – O sr. visita mestres na Índia com freqüência. Há alguma parábola que o sr. aprendeu com eles que o ajude a agir?
Shinyashiki – Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz: “Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero ser feliz.” Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas. Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis. Uma história que aprendi na Índia me ensinou muito. O sujeito fugia de um urso e caiu em um barranco. Conseguiu se pendurar em algumas raízes. O urso tentava pegá-lo. Embaixo, onças pulavam para agarrar seu pé. No maior sufoco, o sujeito olha para
o lado e vê um arbusto com um morango. Ele pega o morango, admira sua beleza e o saboreia. Cada vez mais nós temos ursos e onças à nossa volta. Mas é preciso comer os morangos.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Sindicatos

Em tempos de Lula presidente, posso ser duramente criticado e até ameaçado de morte por dizer isso, mas acredito piamente que os sindicatos atuais tenham apenas um propósito: enriquecer os próprios sindicalistas.

Eu explico: antigamente, na época do Lula sindicalista, por exemplo, as empresas pareciam respeitar os sindicatos e até recorriam a eles quando pensavam em mudar processos ou atividades dos seus funcionários.
Era assim aqui, assim como continua sendo assim na Argentina, nos Estados Unidos e na Espanha: nenhum processo de mudança vai para a frente se o sindicato não der a sua benção.
Infelizmente esse tempo passou e as coisas se "profissionalizam" demais.
Hoje, um sindicalista não anda mais de Fusca, não mora de aluguel e não se veste como peão de obra.
Os caras são super-stars.

Mas de onde vem a grana desses caras se eles seguem sendo torneiros mecânicos, operadores de máquinas ou técnicos?
Minha teoria conspiratória diz que a coisa funciona mais ou menos assim: mesmo que não seja legalmente obrigada a reajustar o salário dos funcionários, a empresa procura o sindicato e declara que está negociando o dissídio coletivo e um monte de outros benefícios para os trabalhadores.
A tal negociação só começa depois da empresa fazer as contas, totalizar a inflação do período e dimensionar o tamanho do "prejuízo" se tivesse que pagar tudo para os funcionários.
Aí a empresa chama o sindicato, oferece como "bola" 25% da quantia que seria para os aumentos, acorda um aumento de 50% para os funcionários e ainda economiza 25%, o que para algumas empresas grandes significa alguns milhões de dólares por ano.
É matemática aplicada e lógica pura: a empresa economiza, o sindicalista fatura e o funcionário acha que se deu bem!
Todo mundo feliz em meio ao mar de lama e má fé.

Em resumo, a coisa toda dos sindicatos foi boa enquanto durou, mas no país da falta de ética e dos mensaleiros e sanguessugas, virou apenas mais uma quadrilha. E mal remunerada, ainda por cima.

Venham para cima, sindicafiosos, os sindicalistas mafiosos!

UPDATE:

Uma matéria muito interessante sobre um Diretor de RH da Volkswagen que desviou dinheiro e pagou viagens e prostitutas para que líderes sindicais alemães facilitassem reestruturações e demissões sem as devidas indenizações.

Bom saber que não somos exclusivos nisso também.

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sexta-feira, janeiro 19, 2007

Organização nas empresas

Juro que me reconheci como o Zé.
E você?

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Feedback

Acho que criei um monstro.
Um dos caras com quem eu costumava almoçar e de quem hoje estou meio afastado por um bom par de razões, vivia reclamando que a empresa não o reconhecia, que não era promovido há cinco anos, que não havia aumento de salário e que ele fazia um monte de coisas e não era reconhecido.
Antes de apoiá-lo a se enforcar, a enforcar o seu chefe (que por sinal e um grande amigo meu) ou a pôr fogo no andar inteiro, perguntei se ele tinha certeza que tinha feito tudo o que era possível para ser reconhecido e se o trabalho dele era mesmo de qualidade.
A intenção era fazê-lo pensar e sair da posição de "reclamante" para a posição de "atuante" e analisar direito a situação para chegar a uma de duas conclusões:
- ele realmente tem um trabalho diferenciado e a falta de reconhecimento e promoções é um defeito da empresa, ou;
- ele achava que trabalhava bem, mas na verdade tinha uma série de deficiências e o fato de não ser promovido era algo natural para um trabalho medíocre.

Uma vez tendo chegado a essa conclusão, as saídas óbvias eram, no primeiro caso, buscar o mercado e no segundo buscar aprimoramento e humildade para reconhecer as falhas.

A conclusão final do papo, uma vez que ele assumiu a sua necessidade de melhorar e deixou de imputar toda a responsabilidade à empresa, foi que ele deveria buscar feedbacks permanentes com as pessoas do seu convívio e com isso identificar todos os pontos de melhoria possíveis.
Era uma caça aos pontos de melhoria, termo politicamente mais correto do que defeitos.

E lá partiu ele buscando espaços até na agenda do rapaz da limpeza para saber por onde começar a melhorar.
Na boa intenção, acabei criando um monstro do feedback.

Isso me lembra do problema que a Firma tem para dar e receber feedbacks consistentes e frequentes.
Não sei se o ranço de estatal atrapalha isso, mas é muito comum encontrarmos gestores que costumavam dar seus pareceres por telefone (e para o marido da funcionária), "em cinco minutos antes de uma reunião importante" ou "por que eram obrigados".
Esse povo encarava o processo como uma obrigação chata e como algo que não agrega nada ao processo. O importante é o cara produzir, trabalhar até tarde e fazer o que eu mando.

Felizmente esse tipo de imbecil está em extinção.
Cada vez mais os gestores estão sendo preparados para, primeiro, entender a importância do processo de troca constante de informações e, em seguida, para traçar planos de melhoria constante para os funcionários.
Isso deveria ser natural, mas não é.

Ainda bem que esse diálogo sempre foi uma constante com meu gestor e foi exatamente por isso que minha promoção apareceu: juntei um trabalho de qualidade com um feedback eficiente e deu no que deu.
Só espero que o novo VP não invente de usar a máquina do tempo e voltar à época do feedback express: leve um em cinco minutos e ganhe uma avaliação que não serve para nada na sua carreira.

Deus me ouça!

segunda-feira, janeiro 15, 2007

E agora?

Minha velha mãe foi demitida.
Depois de quase quinze anos de serviços prestados ao glorioso instituto de cardiologia, chegou um momento em que as habilidades dela não eram mais necessárias e a direção resolveu agradecer e disponibilizá-la para o mercado.
Apesar da grande indignação por parte da família, a demissão é um direito da empresa sempre que a presença do profissional não for mais interessante ou que seu perfil não for mais adequado.

No caso da minha mãe, o problema foi o segundo quesito: como boa "sangue quente" ela era um elemento de difícil controle pela nova Diretoria que achou melhor fazer com ela o mesmo que fez com outros contestadores.

Mas parece que não é tão fácil matar vasos ruins.
Infelizmente para a Diretoria, minha mãe já tratou pacientes demais nesta vida e chegou perto demais da aposentadoria para ser demitida.
Sabendo disso, ela consultou o acordo coletivo, verificou estar dentro da categoria do "idemitíveis" e seguiu tranquilamente seu caminho rumo ao RH (que fingiu que não era com ele) e ao setor jurídico do sindicato (que finalmente serviu para alguma coisa).
O parecer dos "doutores" foi unânime: minha mãe estava com a Lei do seu lado e deveria seguir todos os procedimentos e esperar pela readmissão ou pela polpuda indenização que o hospital deveria pagar.

E como pobre se contenta com pouco, nós da família nos recuperamos rapidamente do choque e começamos a fazer contas para saber o tamanho da nova vida dos velhos e minha irmã caçula.
Somamos FGTS, aviso prévio, férias, 13º e mais os meses de salário que ainda faltavam e chegamos a uma quantia bastante atraente, pelo menos para os nossos padrões.
Por incrível que pareça, minha mãe estaria melhor demitida do que trabalhando.
E ainda havia a possibilidade (remota, mas existente) de ser contratada por outra instituição, já que sua experiência não é nada desprezível.

Mas a alegria durou pouco e minha velha mãe foi recontratada.
O hospital foi forçado a reconsiderar. Eles tem gente lá que conhece os rudimentos da matemática e viu que era um péssimo negócio se livrar dela.
E os planos de curso na França, troca de apartamento e férias no Caribe tiveram que ser adiados.
Mesmo sem a "bolada", minha velha progenitora segue fazendo seu papel calma e tranquilamente, desta vez sem a incômoda presença da demissão.
Esta ela ganhou. E as Diretoras vão ter que engoli-la por mais um par de meses.
Valeu, minha mãe!

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Mundo corporativo

Uma fábula...

Todos os dias, a formiga chegava cedinho ao escritório e pegava duro no
trabalho. Era produtiva e feliz.
O gerente marimbondo estranhou a formiga trabalhar sem supervisão. Se ela
era produtiva sem supervisão, seria ainda mais se fosse supervisionada. E
colocou uma barata, que preparava belíssimos relatórios e tinha muita
experiência, como supervisora.
A primeira preocupação da barata foi a de padronizar o horário de entrada e
saída da formiga. Logo, a barata precisou de uma secretária para ajudar a
preparar os relatórios e contratou também uma aranha para organizar os
arquivos e controlar as ligações telefônicas.
O marimbondo ficou encantado com os relatórios da barata e pediu também
gráficos com indicadores e análise das tendências que eram mostradas em
reuniões.
A barata, então, contratou uma mosca, e comprou um computador com impressora
colorida. Logo, a formiga produtiva e feliz, começou a se lamentar de toda
aquela movimentação de papéis e reuniões!
O marimbondo concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a
área onde a formiga produtiva e feliz, trabalhava. O cargo foi dado a uma
cigarra, que mandou colocar carpete no seu escritório e comprar uma cadeira
especial.
A nova gestora cigarra logo precisou de um computador e de uma assistente
(sua assistente na empresa anterior) para ajudá-la a preparar um plano
estratégico de melhorias e um controle do orçamento para a área onde
trabalhava a formiga, que já não cantarolava mais e cada dia se tornava mais
chateada. A cigarra, então, convenceu o gerente marimbondo, que era preciso
fazer um estudo de clima.
Mas, o marimbondo, ao rever as cifras, se deu conta de que a unidade na qual
a formiga trabalhava já não rendia como antes e contratou a coruja, uma
prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico da
situação. A coruja permaneceu três meses nos escritórios e emitiu um
volumoso relatório, com vários volumes que concluía : "há muita gente nesta
empresa".
E adivinha quem o marimbondo mandou demitir?
A *formiga*, claro, porque ela andava muito desmotivada e aborrecida.


Alguma semelhança com a vida real?

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