E agora?
Minha velha mãe foi demitida.
Depois de quase quinze anos de serviços prestados ao glorioso instituto de cardiologia, chegou um momento em que as habilidades dela não eram mais necessárias e a direção resolveu agradecer e disponibilizá-la para o mercado.
Apesar da grande indignação por parte da família, a demissão é um direito da empresa sempre que a presença do profissional não for mais interessante ou que seu perfil não for mais adequado.
No caso da minha mãe, o problema foi o segundo quesito: como boa "sangue quente" ela era um elemento de difícil controle pela nova Diretoria que achou melhor fazer com ela o mesmo que fez com outros contestadores.
Mas parece que não é tão fácil matar vasos ruins.
Infelizmente para a Diretoria, minha mãe já tratou pacientes demais nesta vida e chegou perto demais da aposentadoria para ser demitida.
Sabendo disso, ela consultou o acordo coletivo, verificou estar dentro da categoria do "idemitíveis" e seguiu tranquilamente seu caminho rumo ao RH (que fingiu que não era com ele) e ao setor jurídico do sindicato (que finalmente serviu para alguma coisa).
O parecer dos "doutores" foi unânime: minha mãe estava com a Lei do seu lado e deveria seguir todos os procedimentos e esperar pela readmissão ou pela polpuda indenização que o hospital deveria pagar.
E como pobre se contenta com pouco, nós da família nos recuperamos rapidamente do choque e começamos a fazer contas para saber o tamanho da nova vida dos velhos e minha irmã caçula.
Somamos FGTS, aviso prévio, férias, 13º e mais os meses de salário que ainda faltavam e chegamos a uma quantia bastante atraente, pelo menos para os nossos padrões.
Por incrível que pareça, minha mãe estaria melhor demitida do que trabalhando.
E ainda havia a possibilidade (remota, mas existente) de ser contratada por outra instituição, já que sua experiência não é nada desprezível.
Mas a alegria durou pouco e minha velha mãe foi recontratada.
O hospital foi forçado a reconsiderar. Eles tem gente lá que conhece os rudimentos da matemática e viu que era um péssimo negócio se livrar dela.
E os planos de curso na França, troca de apartamento e férias no Caribe tiveram que ser adiados.
Mesmo sem a "bolada", minha velha progenitora segue fazendo seu papel calma e tranquilamente, desta vez sem a incômoda presença da demissão.
Esta ela ganhou. E as Diretoras vão ter que engoli-la por mais um par de meses.
Valeu, minha mãe!
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