A firma

Por que se cobrir vira circo e se fechar vira hospício

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Cenouras

No início do ano, o projeto que iniciou o conceito em que estou envolvido agora divulgou aos quatros ventos que se as metas fossem atingidas, além do tradicional bônus semestral, os envolvidos seriam premiados com uma viagem para duas pessoas para qualquer lugar do Brasil.
Havia um limite de preço da viagem que eliminava disparates como o Club Med e o Hotel Ariaú, por exemplo, mas era o suficiente para fazer com que todo mundo ficasse motivado e até os impossíveis prazos de implantação do projeto fossem atingidos.
Nunca vi tanta gente varando noites e correndo risco de ficar sem esposa ou marido.
Uma maravilha motivacional de fazer até o Google ficar com inveja.

O problema é que a fonte secou e a necessidade de esforço continuou.
No meu projeto não há verba para viagens e coincidentemente consigo contar em um dedo de uma mão o número de vezes em que os envolvidos, que eram os mesmos do projeto anterior, fizeram um esforço concentrado para recuperar algum atraso no projeto.
Literalmente, a motivação sumiu quando a "cenoura" sumiu.
Simplesmente uma levou a outra embora para nunca mais voltar.

Falando dessa forma simples alguém pode achar que estou exagerando e que a coisa não é bem assim.
Infelizmente só eu sei como é e como estou sofrendo para cumprir o prazo impossível que me foi imposto.
Como não tenho cenoura, tenho que apelar para a amizade e a emoção e implorar de joelhos pela ajuda dos analistas e técnicos, coisa bem pouco efetiva já que os conheço há pouco tempo e ainda não conquistei a sua total confiança.

O que fazer nesta situação?
Sentar e chorar é que eu não vou e se me faltam cenouras, me sobra vontade.
Apesar de não acreditar que a motivação depende unicamente de dinheiro, tenho que me render à realidade e buscar alternativas.
Não vou cumprir o prazo, mas vou entregar o projeto e na próxima vez, antes de trabalhar no escopo e nos requisitos do usuário, vou tratar de providenciar uma cenoura bem atraente para garantir a "boa vontade" de todos.

Coisas de ex-estatal!

quarta-feira, dezembro 20, 2006

O happy hour

Ah, mas que maravilha cultural e antropológica é o happy hour, o momento onde os homens se encontram para discutir assuntos relevantes como a bunda da nova contratada, o jeito esculachadamente erótico de ser da secretária sexagenária e o resultado das investidas daquele sem noção que não larga do pé da favorita da área, mesmo sabendo que a moça é séria e tem namorado.
E nada melhor do que discutir tudo isso durante a degustação de finos exemplares de cerveja de garrafa, calabresa afogada em óleo e amendoim do ano passado.
Como é bom curtir essa coisa boa e brasileira com o feijão preto e a carne de preá (salve Graciliano Ramos).

Como frequentemente o grupo é composto de uma ou duas mulheres, nem sempre podemos tratar do nosso assunto preferido sem correr o risco de um processo por assédio moral ou sexual.
Nessas situações, falamos de chefes, de maridos e esposas, de viagens, de amores distantes e até de problemas pessoais.
Por incrível que pareça, a sinceridade costuma imperar quando nos sentamos naquelas cadeiras de metal e ensaiamos uma batucada nas mesinhas amarelas e envelhecidas.
Acabamos nos aproximando mais e dividindo um pouco da vida que não temos como mostrar quando estamos correndo atrás de projetos ou preparando apresentações que vão suportar a carnificina em que se transformam as reuniões com o Diretor.

É por essas e outras que, mesmo depois do "sim" lá no altar, não abro mão de um par de horas por semana acompanhado do povo do trabalho e de uma caixa de geladas.
Isso faz muito bem, dentro e fora do ambiente de trabalho.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Estrela

A fauna corporativa está cheia de espécimes curiosos, alguns raros e à beira da extinção, outros comuns como minhocas em fornecedores do McDonald´s.
Um dos mais interessantes é a Estrela, aquele ser que precisa brilhar o tempo todo sob risco de entrar em supernova e morrer antes de espalhar a sua luza para todo o universo.

A tal estrela costuma chegar atrasada a reuniões, cumprimenta os presentes em voz alte e, obviamente, interrompe todo e qualquer assunto que estivesse sendo discutido nas três horas anteriores.
Entrar calada, se sentar discretamente e só abrir a boca para fazer um comentário pertinente após ter escutado bastante e se situado no contexto são coisas tão difíceis quanto dar um exemplo sem usar o pronome "eu" na frase.
Isso sempre me faz pensar que a criatura está no lugar errado e deveria ser muito mais útil se doasse o seu cérebro privileagiado para ser estudado pela ciência.
Ô mala!

Outra atitude típica da Estrela é o comentário "água": inodoro, insípido e incolor.
Ela sempre pede a palavra e fala por dez minutos, obviamente sem chegar a lugar nenhum e sem permitir apartes ou contribuições.
Só ela fala e a reunião empaca!

O único antídoto para a Estrela é a humilhação pública que, apesar de não ser muito ético, salva a paciência e os colhões de todos os presentes.
Nem a Estrela resiste ao buraco negro da chacota e à chuva de asteróides da indiferença.
Basta ser bastante enfático ao afirmar que ela é louca e pronto: uma mala a menos na reunião.
Fica a dica.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Mais hábitos

Voltando aos relatos de coisas que me causam desgosto aqui na empresa, chega a hora de falar da famigerada "carteirada", aquele hábito nocivo de só fazer as coisas sob o poder da patente.
Acho que tenho especial aversão por essa prática por ser contra o aspecto acefálico da disciplina militar. Não quero dizer aqui que todo militar é burro, mas sim que não gosto da idéia de obedecer por obedecer e da punição em caso de questionamento.
Sei que em algumas situações isso separa a vida da morte, mas graças a Deus o mundo corporativo não possui esse tipo de situação, ao menos não no sentido literal.

A tal "carteirada" acontece muito aqui n´A Firma, mas surpreendentemente tem perdido a força no meu setor. Deve ter algo a ver com a grande sintonia que existe entre a equipe e os executivos, minando muita da força e da surpresa que o telefonema para o nosso Diretor possa ter.
E todo mundo sabe que a boa "carteirada" precisa de um pouco de desinformação para ser eficiente.

O último exemplo que tive dessa prática foi durante um pedido de ajuda a um executivo de outra área. E o pior é que a ligação partiu de uma executiva da minha área e não de um peão qualquer.
O "dono" da outra área negou ajuda imediata, mas disse que se o Superintendente de uma determinada área ligasse para ele e definisse algumas prioridades, a ajuda até que poderia sair.
Fiquei sem entender que diferença faria ele nos ajudar sem a ligação do Sup, mas logo desisti e chorei pela dependência da patente.

Para finalizar este post, quero mencionar rapidamente uma coisa que me deixa fulo da vida, mas que é impossível de matar por aqui: as reuniões de "catado".
Para quem nunca ouviu o termo, trata-se de uma reunião sem agendamento e sem planejamento, que é feita por alguém que sai "catando" as pessoas de um determinado setor.
Independente da importância da mensagem a ser passada ou do assunto a ser discutido, quem não estiver naquels instante dentro do setor, acaba perdendo a informação e pode ficar gravemente defasado em assunto de diversas importâncias.
Detesto especialmente essa prática pelos conceitos de desrespeito à agenda alheia e perenização da exceção que a entranham.
Fazer um "catado" emergencial é uma coisa, mas fazer disso um estilo gerencial é outra bem diferente.
Vade retro, catadores!

sexta-feira, dezembro 08, 2006

A importância do "Não Sei"

MAX GEHRINGER - Revista Você S.A.)

Se você ainda não sabe qual é a sua verdadeira vocação, imagine a seguinte cena: Você está olhando pela janela. Não há nada de especial no céu, somente algumas nuvens aqui e ali... Aí chega alguém que também não tem nada para fazer e pergunta:

- Será que vai chover hoje?

- Se você responder "com certeza..." a sua área é Vendas. O pessoal de Vendas é o único que sempre tem certeza de tudo;
- Se a resposta for "sei lá, estou pensando em outra coisa" ... então a sua área é Marketing. O pessoal de Marketing está sempre pensando no que os outros não estão pensando;
- Se você responder "sim, há uma boa probabilidade de chover..." você é da área de Engenharia. O pessoal da Engenharia está sempre disposto a transformar o universo em números;
- Se a resposta for "depende..." Você nasceu para Recursos Humanos. Uma área em que qualquer fato sempre estará na dependência de outros fatos;
- Se você responder "ah, a meteorologia disse que não" ... você é da área de Contabilidade. O pessoal da Contabilidade sempre confia mais nos dados no que nos próprios olhos;
- Se a resposta for "sei lá, mas por via das dúvidas eu trouxe um guarda-chuvas" ... seu lugar é na área Financeira. Eles devem estar sempre bem preparados para qualquer virada de tempo;

Agora, se você responder "não sei", há uma boa chance de que você tenha uma carreira de sucesso e acabe chegando à diretoria da empresa. De cada 100 pessoas, só uma tem a coragem de responder "não sei" quando não sabe. Os outros 99 sempre acham que precisam ter uma resposta pronta, seja ela qual for, para qualquer situação. "Não sei" é sempre uma resposta que economiza o tempo de todo mundo, e pré-dispõe os envolvidos a conseguir dados mais concretos antes de tomar uma decisão. Parece simples, mas responder, "não sei" é uma das coisas mais difíceis de se aprender na vida corporativa.

- Por quê? ... Eu sinceramente "não sei".

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Passando adiante

Aconteceu meio que por acaso, durante um almoço com alguns colegas.
Um deles mencionou as perspectivas da carreira e os resultados obtidos depois de um ano e meio de formado, mesmo tempo de permanência dele n´A Firma, e "bingo", lá estava eu dizendo o que havia funcionado ou não na minha carreira e o que eu achava que ele deveria fazer ou aprender.

Foi algo natural, espontâneo e bem sintonizado com meu atual momento de vida.
Achei que valeria a pena repassar o conhecimento e incentivar o crescimento de alguém que poderia ter uma oportunidade que eu não tive.
Sim, por que eu certamente sofri a falta desse tipo de orientação quando comecei e não consegui controlar certas características passionais da minha personalidade que me levaram a um resultado bem pouco otimizado na carreira.
Como não acredito que todo mundo deva sofrer os mesmos males para crescer e aprender, resolvi ajudar a qualquer pessoa que eu conheça e que eu entenda que precisa de alguma coisa.
Coloquei na cabeça que é passando adiante que a gente consegue aproveitar melhor o bem que recebemos.

Voltando ao meu jovem colega, no dia seguinte ele veio me agradecer pelos toques e pela disposição em ajudar, mesmo que àquela altura a gente não tivesse um relacionamento muito próximo.
Senti que a missão havia sido bem cumprida e fiquei feliz.

Coisa parecida aconteceu com outro colega, este bem mais experiente, durante um processo de concorrência a uma vaga de executivo.
Era novamente um almoço e ele mencionou algumas necessidades das próximas fases do processo. Mais do que depressa comecei a dar minhas opiniões e recomendações, que ele agradeceu, utilizou e acabaram levando-o para a "final".
Agora preciso fechar a ação com chave de ouro e ajudá-lo e mostrar "brilho nos olhos" na última fase.
Um ótimo desafio para quem acredita que o conhecimento deve ser repassado sem restrições e que os "perrengues" devem fazer parte da nossa história, apenas da nossa.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Sexo

Onde se ganha o pão, não se come a carne.

Poucas vezes vi um ditado (ou provérbio, ou máxima, ou seja lá o que for) mais furado do que esse. E nem preciso recorrer à minha própria experiência, pontuada com alguns bons momentos ao lado de recepcionistas e colegas de equipe, para provar isso.
Na verdade, só consigo concluir que quem inventou isso deve ter colecionado foras da secretária, da moça do café, da consultora e até da Diretora. Só assim mesmo para assumir esse jeito looser de ser.

Antes que o Grande Líder, o Roberto ou o Jônatas escrevam me esculachando, é melhor explicar o que quero dizer.
Não nego que o ambiente de trabalho possui armadilhas demais para incentivar a ação de quem quer iniciar um envolvimento amoroso ou sexual com um colega, mas também admito que é justamente essa contra-indicação (ou proibição mesmo) que deixa tudo muito mais divertido.
Como bom povo adorador da culpa católica, tudo que é proibido é mais gostoso.

A festa da vice-presidência que rolou na última sexta foi um exemplo perfeito disso.
Mesmo que todos soubessem que qualquer coisa que acontecesse ali seria assunto para todo 2007, poucas meninas deixaram de mostrar a barriga por baixo da camiseta oficial e poucos homens deixaram de aproveitar o open bar e a semi-pegação que rolou ao som da Quasímodo.
Como sou casado e tenho consciência que não sei brincar, fugi de qualquer situação potencialmente perigosa como o Diabo fugiria da cruz e me contentei em observar e registrar. Isso sempre acaba sendo mais hilário, apesar de menos gostoso.

A grande novidade desta ano foi a agregação de cerca de 700 pessoas do back office e do faturamento ao nosso grupo de 600 sofredores da área de sistemas.
Como nessas áreas novas o perfil é de gente jovem demais para se preocupar com carreira, postura ou imagem pública, a coisa degringolou logo no começo.
Deu até dó dos solteiros e desgarrados em geral.

Por tudo isso, minha contribuição para a atualização do provérbio é a seguinte: onde se ganha o pão, se come sim a carne, desde que ninguém fique sabendo.

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