O bonde
Sinto que perdi o bonde.
Acabei de completar 36 anos e me vejo com poucas chances na empresa.
Apesar de ser grande e poderosa, A Firma parece não gostar muito de pessoas com mais de 30.
Tudo bem. É exagero meu dizer isso. Existem oportunidades para os "velhinhos", mas elas são bastante inferiores às dadas para quem normalmente não tem filhos, nem compromissos, nem muitas contas a pagar.
Tenho uma posição e um salário razoáveis, mas não tenho mais acesso a coisas que julgo essenciais como experiências acadêmicas e profissionais em outros países.
Isso é exclusividade de alguns amigos meus, que recebem todo o meu incentivo, mas que não ficam imunes a uma pontinha de inveja e lamento.
Conversei sobre isso nesta semana com uma amiga.
Na época em que tinha idade para participar desses programas, me faltava consciência da importância deles e me faltavam os próprios programas em si.
Quando entrei n´A Firma em junho de 2000, nada disso existia.
Depois que ganhei maturidade para concorrer e aproveitar, as regras já me excluíam.
Minha amiga estava na mesma situação, com a diferença de não se sentir tão confortável com as escolhas feitas no período (casamento, filho, etc.).
Tenho a sensação clara de ter desperdiçado uma parte importante da minha vida profissional, por menos importância que eu goste de dar a ela.
Foi também nesta semana, em uma mesa de bar com amigos, que falamos sobre o impasse de buscar ou não uma oportunidade como executivo.
Apesar da aparente falta de sentido em questionar este tipo de coisa, tínhamos boas razões para quebrar paradigmas: a empresa estava em meio a um sensível corte de executivos. Só de executivos.
Segundo um colega, se ele tivesse aproveitado a oportunidade que surgiu há dois anos, hoje a chance de estar incluído no corte era grande.
Mas qual seria a alternativa?
Abdicar das oportunidades e "parar no tempo" é que não pode ser.
Por mais arriscado que seja, acredito piamente que não tenhamos o direito de recusar essas oportunidades. Ou melhor, eu não acredito no meu direito de recusar meu próprio futuro.
Mas por enquanto não corro esse risco. Por enquanto não tenho escolhas a fazer.
Nem lamentar eu devia. Mas é o que acabo fazendo. Talvez por costume, não sei.
O que sinto é que podia ser comigo. Mas não é. E isso é chato demais.
Mas passa, logo passa. E aí os "problemas reais" não me permitem pensar nessas "besteiras".
Pelo menos é nisso que eu aposto. Tomara que seja verdade.
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