A firma

Por que se cobrir vira circo e se fechar vira hospício

segunda-feira, outubro 09, 2006

Literatura

Há alguns anos, a Firma promoveu uma seleção para um programa de capacitação e formação de profissionais. Na verdade, existiam dois programas, um para formação de executivos e outro para capacitação de especialistas, a tal carreira em Y.
As diferenças de critérios para a candidatura a um ou outro programa eram em sua maioria sutis, mas duas delas chamavam a atenção pelo número de candidatos que excluiam ou incluíam: idade limite de 30 anos (para o programa de executivos) e dispensa de conhecimentos de inglês (para o programa de especialistas).
Como eu ainda estava na idade (ah, que saudade), me candidatei ao programa de executivos e passei bem pela prova de inglês.
O problema foi quando meu perfil profissional e psicológico apontou para uma grande aderênca ao perfil de especialista e um desenvolvimento custoso demais para o perfil de executivo.
Em bom portugês: eu já estava pronto para seguir a carreira em Y, mas teria muito trabalho para me desenvolver como executivo.

Na época eu não concordei com o parecer dos avaliadores, justamente por achar que o programa dedicado me ensinaria muito sobre a capacitação de um executivo e seria essencial para o bom exercício da função no futuro.
Infelizmente não adiantou argumentar e fui encaminhado para o final do processo de seleção de especialistas.
Quase sabotei tudo de tanto desgosto que senti, mas depois coloquei a cabeça no lugar e resolvi aproveitar a oportunidade e retirar o máximo de benefícios dela.

Além dos treinamentos que nos foram fornecidos, iniciei um programa paralelo de contato com literatura especializada, voltada à administração, negócios e gestão de pessoas.
Coletei referências de diversas fontes e acabei formando uma lista razoável de livros que li com mais ou menos afinco, dependendo do tema.
Dois desses livros me chamaram a atenção devido à popularidade que alcançaram e por isso decidi iniciar por eles uma série de comentários literários.

Peço que não esperem análiseds profundas ou exemplos práticos de aplicações.
Minha intenção é apenas mencionar as passagens que considero válidas e aquelas que considero puro marketing.
De qualquer maneira, é apenas a minha opinião e qualquer colega está convidado a me desmentir ou enriquecer estas impressões.

Começo com um livro que não tive coragem de comprar até que um colega de trabalho (com quem eu não tinha um contato especialmente próximo), decidiu emprestá-lo à espera da minha opinião. Acho que ele notou que eu sempre andava com um livro na mão e achou que eu poderia ser uma boa pessoa para trocar idéias.
Eu tinha receio de lidar com um livro tão vendido e de tão unânime avaliação no mundo das resenhas de sites de venda on line.
Ainda não havia conversado seriamente com ninguém sobre o tema e tive que tirar as minhas próprias conclusões. Pensando bem, talvez tenha sido melhor assim.

Em poucas palavras, achei o livro mal escrito e com o objetivo primordial de vender a si mesmo. Ele até menciona coisas interessantes, mas me passou a sensação de que os conceitos de Maslow estavam sendo requentados e vendidos em um fast food da administração.
Gosto de várias idéias expostas no livro e até acredito que elas são válidas e aplicáveis, mas confesso que a idéia de atualização do pacote e não das idéias, prejudicou minha relação com o livro.

Para não dizer que sou injusto, não vou condenar o livro logo de cara, mas vou recomendar que se leia primeiro um livro de Maslow e só depois se passe para esta versão pop.

Outro exemplar de má literatura e repaginação de teorias anteriores é este segundo livro do James Hunter.
Algumas sinopses apontam o livro como um manual do bom gestor, mas depois da leitura achei que ele era apenas uma continuação do Monge, algo como a sequência de um filme de sucesso que aproveita as idéias principais e apresenta algumas informações novas apenas para que o espectador não ache que está sendo obrigado a comprar o mesmo produto duas vezes.

Neste livro eu consegui fazer relacionamentos com outras teorias ou metodologias e fiz um pequeno resumo delas:
- 4 estilos relacionais (agressivo, passivo, manipulador e assertivo ou auto-afirmativo): por incrível que pareça, encontrei uma analogia disto com a medicina ayurvédica, que também possui quatro tipos de personalidades e que todas as pessoas possuem duas dessas quatro;
- 4 tipo de habilidades (inconsciente e sem habilidade; consciente e sem habilidade; consciente e com habilidade e; inconsciente e com habilidade): esta definição é igual ao conceito utilizado no CMMI; dou à mão à palmatória ao admitir que não sei quem veio antes, mas também não sei se isso faz muita diferença.

De um modo geral, não posso condenar o Sr. Hunter por tentar ocupar um lugar entre os mestres da Administração, mas acho prudente ressaltar que existem outras pessoas que vieram antes e que versaram sobre os mesmos temas, provavelmente com muito mais propriedade.
Para não prejudicar demais a vida deste americano que já deve estar milionário, acredito na validade dos seus livros, mas desde que o leitor esteja consciente e se interesse por ler seus antecessores.

Para terminar, reforço que esta é apenas a minha opinião e que qualquer comentário, até os repletos de ofensas à minha honra e à minha família, serão muito bem vindos.
Afinal de contas, eu quero mais é aprender com quem sabe.

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