A firma

Por que se cobrir vira circo e se fechar vira hospício

sexta-feira, agosto 25, 2006

Projetos

Desenvolvendo um pouco a sugestão dada pelo Jônatas no texto sobre os maus hábitos comuns aqui n´A Firma, resolvi descrever de uma forma bem prática as fases típicas de um projeto.

Qualquer semelhança com metodologias consagradas como PMBOK e afins não será mera coincidência.

Vamos às fases:

- análise: é quando o usuário sonha ou escreve em papel de pão o que quer (os requisitos) e a equipe de projeto tem que utilizar psicografia, quiromancia e leitura da borra de café para conseguir documentar tudo; é o nascimento do desastre;

- desenho: fase em que a equipe de projeto deve utilizar conhecimentos de pedagogia e psicologia infantil para traduzir os requisitos do usuário para uma linguagem que o desenvolvedor (ou fornecedor) possa entender; é normalmente a fase onde o desastre começa a ganhar seus primeiros contornos;

- construção: aqui os retalhos de requisitos vão sendo elaborados e colados uns aos outros para formar o produto final, supostamente atendendo à necessidade do usuário; o desastre cresce, mas ainda não aparece;

- implantação: momento em que a solução (ou produto ou desenvolvimento) é montado (com ou sem protótipo) e entregue para o usuário, que o recebe feliz e contente, crente que seus problemas estariam eliminados; normalmente essa sensação de alívio do fornecedor e satisfação do usuário dura alguns segundos após a "entrada em produção"; hora de colocar o monstrinho para funcionar;

- desespero: com os negócios paralisados pela pane dos sistemas desenvolvidos ou pelo recall de algum produto mal projetados, surje o momento de desespero por parte de todos; começa no usuário que vê suas previsões de resultados virarem pó e vai até o fornecedor que começa a sentir a mordida dos SLAs ou multas; é o início da ruína;

- busca dos culpados: como alguém precisa pagar pelos erros cometidos por toda a organização, alguns líderes "pró-ativos" se prontificam a identificar as razões para o fracasso; normalmente essa razões respondem pelos nomes técnicos de Antonio, João, Maria e assemelhados;

- punição dos inocentes: para seguir à risca o paradigma, a normalização da situação passa pela eliminação das razões do problema; à partir deste momento, aqueles coitados que vararam noites e perderam as férias dos filhos para conseguir fazer o melhor possível com a informação podre que receberam passam a engrossar o cadastro dos sites de RH em busca de recolocação; nos países de primeiro mundo, nesta fase o número de suicídios costuma aumentar sensivelmente, enquanto que por aqui nos trópicos, o problema passa a ser o incremento de lucro das empresas de bebidas, notadamente as fabricantes de cachaça barata;

- premiação dos inúteis: para encerrar o projeto com chave de ouro, chega a hora de reconhecer o esforço do envolvidos na disponibilização de mais um produto que vai ajudar no crescimento e expansão dos lucros da empresa; e os escolhidos para receber a premiação invariavelmente são aqueles que ajudaram a mandar embora aqueles que efetivamente trabalharam e/ou aqueles que apenas frequentaram o ambiente do projeto para aparecer nas fotos quando os executivos resolviam ver o que estava acontecendo; curiosamente, acaba se gastando em prêmios cerca de metade do orçamento total do projeto, que continua com milhares de pendências.

Ainda falando de coincidências, que atire a primeira pedra aquele que nunca viveu nenhuma dessas fases em algum dos seus projetos.

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