A firma

Por que se cobrir vira circo e se fechar vira hospício

segunda-feira, agosto 14, 2006

Hábitos

Ter começado a escrever este blog acabou me deixando com um olhar muito mais crítico em relação a tudo que me cerca aqui na Firma.
Não deixo passar nada e sempre que posso corro para o micro e registro minhas impressões.
Desta vez, resolvi relacionar alguns hábitos corriqueiros por aqui, mas que poderiam ser considerados ofensas à progenitora em outras empresas e ocasionar sanções, demissões e até cabeçadas por parte dos gestores.

Vamos a eles:

- atraso em reuniões: parece até que é uma Lei votada no Congresso; não há santo que chegue no horário marcado, nem que ele mesmo tenha convocado a bendita reunião; na verdade, a Lei também se aplica ao atraso padrão de 30 minutos, que todo mundo faz questão de respeitar;

- tática "bate e alisa": essa eu achei que existia somente em relacionamentos amorosos; segundo esse hábito, o gestor passa 98% do ano arrancando o couro da equipe, impondo prazos impossíveis, sendo o mais grosso possível e se lixando para as necessidades básicas de todos, mas quando chega a época da Pesquisa de Clima, ocorre uma transformação digna de Jeckill e Hyde e o chefe se torna a mais amável das criaturas, distribuindo bombons, pagando almoços e cumprimentando até os homens com beijinhos no rosto e tapinhas nas costas; seria apenas ridículo, se não fosse tão contra-producente; isso torna o hábito realmente bizarro;

- gestão de expectativas: ao invés de passar para o cliente uma informação com o devido FC (1), o fornecedor é otimista e divulga a melhor estimativa possível; obviamente, Murphy e sua legião sempre atacam explodindo essa expectativa e deixando o cliente jurando vingança por gerações;

- tática "deu a mão, quero o braço": muito ligada ao hábito anterior, essa é mais comum do que se imagina; o fornecedor informa um prazo e, independente do FC existente, o cliente sempre quer algo melhor, jogando por terra todo o esforço feito para atendê-lo; mais uma vez é melhor jogar os prazos para a década seguinte e logo depois afirmar que se esforçou demais, buscou sinergia, falou com Deus e o mundo e conseguiu o resultado para a semana seguinte;

- foco na burocracia: o importante é seguir todas as normas e procedimentos impostos por cada uma das 55 consultorias que passam por aqui e trazem as best practices do mercado; o atendimento ao cliente, que em algum do passado já afoi a prioridade da organização, fica em quinto plano; quando fica;

- transferência de responsabilidade: esta é herança dos "bons tempos" das grandes consultorias; "se o problema está comigo, é um problema, se está com outro, não é mais um problema"; essa isenção é patológica e afeta não só o cliente, mas também os envolvidos no processo já que demanda uma canibalização de recursos e tempo; é o trinfu do "cada um por si e todos contra todos" sobre o "um por todos, todos por um.

Assim como no glossário, também os hábitos das Corporações serão enriquecidos ao longo do tempo.
Contribuições são bem vindas.

(1) FC: é a gordura, folga, conforto ou, no popular, fator de cagaço que toda estimativa deveria conter para permitir uma gestão mais eficiente da expectativa.

2 Comments:

At 6:23 PM, Anonymous Anônimo said...

Faltou o processo de "Identificação dos Culpados e Punição dos Inocentes" ;)

 
At 9:16 AM, Blogger E. Weight said...

Grato mais uma vez, Jônatas.

Falo sobre esse processo em outro post.

Um abraço.

 

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